sexta-feira, 30 de abril de 2010

Segredo bem guardado


Este foi pras Amigas da Pracinha:

João levou Teresa, que convidou Raimundo, que chamou Maria, que convocou Joaquim, que foi com Lili, que não contou pra ninguém. Lili não é boba: dica boa a gente guarda e só compartilha com os amigos, senão o que é bom estraga... Pois compartilhar coisas boas num clima de amizade é o espírito da Fazenda do Serrote
. Uma amiga recomendou, e depois outra. Fomos, e de repente desvendou-se um belo segredo de polichinelo: todo mundo a quem indico já foi e faz parte da legião de fãs deste oásis da Zona da Mata mineira (a três horas do Rio, pela Rio-Terê e depois rumo a Além Paraíba, uma estrada linda). Você ainda não conhece? Pois então chega mais, vou falar baixinho:

Era uma vez um lugar chamado Santo Antônio do Aventureiro,
onde havia uma centenária fazenda de café, antiga rota dos que buscavam caminho alternativo pra escapar do quinto, imposto cobrado pela Coroa de toda a riqueza encontrada na colônia. O tempo passou a correr, o mato cresceu ao redor, e adormeceu a fazenda assim. Até que um casal de corajosos "aventureiros" a despertou para um novo ciclo de ouro, transformando suas ruínas numa das mais charmosas e acolhedoras pousadas deste reino - para adultos e crianças.

A marca maior da Fazenda do Serrote é a hospitalidade. Lá se é recebido como quem chega à casa de amigos. Você pode simplesmente ficar na sua, mas o clima acolhedor e de cumplicidade acaba estimulando o interesse mútuo entre os hóspedes, levando a novas amizades ou pelo menos bons dedos de prosa, como pede a tradição mineira.

Outra característica é que é um hotel de charme, mas baby-child friendly
. Há atividades o dia todo e toda a infra-estrutura: banheira, berço com travesseirinho, grade protetora para a cama... Até carrinho ofereceram! (o da própria família, que já não precisa). A criançada passa o dia com os recreadores, e bebês podem ficar com babás (contratadas à parte). Assim, os casais recuperam o status de indivíduos - nada de almoçar o resto do prato do filho! - e ficam livres para curtir a estada, produzida pessoalmente pelos anfitriões, nos mínimos detalhes.

Bossa e capricho estão por toda parte.
No quarto, a delicadeza da moringa com água fresca, do raminho de flor do campo em cima das toalhas sobre a cama e os móveis antigos, iguais aos da vovó - camas, armários, criados-mudos, chapeleiros, até o berço é colonial! (Mas não é por estar num cenário antigo que vão faltar as inovações da vida moderna: tem-se o conforto do colchão americano, do condicionador de ar split, do frigobar.)

À mesa do casarão, crianças mais cedo, adultos depois, cardápio especial para ambos e diferente a cada dia. O pão de queijo que derrete, os pães, os queijos, os bolos, o sorvete, as massas e saladas... Tudo é artesanal, receitas de família meio mineira, meio italiana, um cardápio equilibrado com menos açúcar e mais afeto, raro de ver em bufês de pensão completa. O doce de leite, levinho, mistura da produção de Mimosa, Formosa, Graúna, Estrela, Meia-Lua e Meia-Noite, depura por quatro horas no tacho da Luzia, sem parar de mexer. Outro sabor...

Mas é do lado de fora que se vive o maior encantamento. É como estar dentro de uma pintura. Uma luz espetacular realça as montanhas verdes, o colorido das flores, as revoadas de pássaros. Redes e espreguiçadeiras convidam ao dolce far niente, sob árvores frutíferas carregadinhas ou na pitoresca prainha do açude, onde a areia tem conchinhas e os peixinhos vêm na sua mão. Uma sensação de bem-estar que as crianças (e muitos adultos!) comumente resumem numa frase: "Quero morar aqui pra sempre!".

Entre as atividades, o ponto alto são as cavalgadas. À sombra de um frondoso pé de carambola, o comandante da tropa apresenta os cavalos de raça e dá uma aula sobre montaria antes de saírem para passeios nas redondezas - até a cidade de Santo Antônio do Aventureiro, por exemplo. Da tropa mirim, minha Sofia, de 4 anos, já se considera uma legítima amazona: montou a Cajuína, a Serenata e a Atena, morro acima até a base de arvorismo ou até a estrada. Meio frustrada por ainda não ter tamanho para a tirolesa, ela se divertiu de caiaque, barco, charrete, pescou, nadou, acompanhou de pertinho a ordenha das vacas, fez expedições noturnas em busca de sapos e outros bichos...

Por estar com um bebê de 4 meses, minha experiência foi mais contemplativa, embalando Cosmo no farfalhar das árvores, do moinho d'água (e do tilintar dos talheres). Eu
me arrependi de não termos usado o serviço de babá, mas pude curtir a possante queda d'água na porta da sauna, a piscina de pedra aquecida a lenha, a prainha... E, se não fiz tirolesa e sequer uma caminhada pela trilha, foi por pura preguiça. Se bem que, para uma mãe que gosta de ficar com os pintinhos sob a asa como eu, deixar minha filhota solta o dia inteiro foi, em si, uma aventura inesquecível. Mas guarde segredo...

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Futuro mais que pretérito perfeitíssimo

Sofia fala muito bem. Tem um vocabulário rico e pronuncia as palavras com ênfase e efeito. É toda prosa por usar as vogais corretas, sem trocar o "e" pelo "i", como fazemos os cariocas... E as conjugações verbais? Raciocínio lógico, craque da língua viva, o orgulho da família!

- Aí não, é proebido passar!

- Me empresta o controle da telivisão?

- O Cosmo ficou entregado com o barulhinho que eu fiz!

- Aleás, hoje tem escola?

- Já pensou se a cadeira sejiria alta e eu caísse dela?

- Era melhor se a gente isse logo...

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Mães e filhos

Erasmo canta no rádio:
"Ei, mãe, não sou mais menino
Não é justo que também queira parir meu destino
Você já fez a sua parte me pondo no mundo
Que agora é meu dono, mãe, e nos seus planos não estão você
Proteção desprotege e carinho demais faz arrepender
Ei, mãe, já sei de antemão que você fez tudo por mim
e jamais quer que eu sofra
Pois sou seu único filho
Mas contudo não posso fazer nada
A barra tá pesada, mãe E quem tá na chuva tem que se molhar
No início vai ser difícil
Mas depois você vai se acostumar..."