sexta-feira, 17 de abril de 2009

Confissões

Qual o limite para a falta de limite?
Sofia anda testando o meu. Esta pessoa que mal chegou ao mundo já conhece os mais recônditos porões da minha alma. E, vira e mexe, se dispõe a abrir suas gavetas entulhadas e tortas.
Antes de ser mãe, eu era uma excelente mãe. Achava que jamais gritaria com filhos; bater, então! Eu ria de piada de mães judias e italianas, dramáticas e chantagistas. Balançava a cabeça para quem sai andando e deixa o filho se esgoelando, coitado, no meio do corredor do shopping. Afinal, quem se irrita a este ponto com um filho só pode ser desequilibrado. Ou cruel. Afinal, tratando as crianças com carinho, elas vão ser sempre carinhosas e boazinhas, certo? Nananinanão. E assim me vejo recorrendo a expedientes perversos para conseguir cumprir a mínima rotina doméstica. Um exemplo (considere longas pausas entre as falas):
- Daqui a pouco tá na hora do banho.
- Tá na hora do banho.
- Vamos pro banho?
- Tá, mais um minuto e vamos.
- Então agora vamos pro banho, vamos lá, ajuda a mamãe.
- Banho no três: 1, 2... 3.
- Já pro baaaanhoooo!
Ela, que antes só me ignorava, então dá a entender que estava ouvindo sim, só não estava interessada:
- Não vou. Não quero.
E a hora passando, a margem de segurança para imprevistos idem, e ela continua:
- Não vou! Não quero!
Quando tento conduzi-la civilizadamente, ela escapole aos safanões e pontapés.
É aí que os meus monstros saem da gaveta, ávidos por aquela jugular fofinha.
A mais frequente é o misto de mãe judia com italiana. Vigorosamente, a arrasto pro chuveiro e parto pra seção de culpas:
- Eu não gosto de fazer isso. Mas você está fazendo malcriação e me deixou muito brava. Pra que aborrecer a mamãe? Não é pior assim? Se você ajuda, fica tudo bem. Mas assim não dá certo. Mamãe está muito triste. E pior: atrasada. Agora, não vai mais dar tempo da gente brincar, porque você passou esse tempo todo fazendo malcriação em vez de obedecer.
A essa hora ela, arrependida, pede mil desculpas, chora, me abraça, pede pra me acalmar. Mas eu, coração de pedra, fico intransigente. E as lamúrias continuam:
- Tá, desculpo, mas ainda estou chateada. E você precisa entender que tem que obedecer. Quando a mamãe fala, tem que atender. Combinado? Combinado.
E aí começa tudo de novo, agora pra SAIR do banho. E, quando esgota-se a criatividade e a paciência não dá o ar da graça, apelo para a torneira fria.
Deve haver um jeito menos truculento de fazer um filho ser cooperativo. Alguém me ensina?

10 comentários:

  1. Ai amiga, eu queria saber, mas... vc bem sabe do meu "método"! rsrsrs Outro dia só para testar, eu proíbi a Laura de tomar banho, amiga o Ricardo que a tudo assistiu ficou pasmo,pois em nada menos que dois minutos ela mesma já tinha tirado o short e a fralda e estava dentro do box!rsrsrsrs É uma pena que não dê para ser assim todos os dias!!!

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  2. Outro dia ouvi numa rádio uma frase boba, até meio clichê, mas real: amar tb pressupõe dar limites. E limitar não é agradável, contudo necessário para estabelecer as fornteiras entre o eu e o outro, para institucionalizar o respeito ao próximo e iniciar nas regras da convivência social.
    A manifestação do amor nem sempre é acompanhada de afagos, sorrisos, carinhos.
    Hoje Sofia pode espernear, gritar, morder, arranhar... mas mais pra frente vai reconhecer o quanto foi importante limitá-la para que ela deixe de espernear, gritar e morder, passando a se conter (seus institos primitivos), a falar serenamente (civilizadamente) e a manifestar carinho.
    Vc não era uma mãe ideal (pelo que vc parece entender o que seja uma), pelo menos para seus amigos com os quais, mesmo sem querer, acabava sendo matrona.
    Por muitas vezes vi suas sobrancelhas se cerrarem para mim (e lembrar disso me enche os olhos) num alerta que me dizia "Luiz, acorda para a vida".
    Te devo muito por sua braveza para comigo. Eternamente grato, mesmo nos momentos em que percebia que algumas vezes certo comportamento era desprovido de uma compreensão plena do que passava comigo em dado momento.
    Os que não me amam, não me alertam, me deixam insistir no erro.
    Seja amável, sempre. Mas continue firmando os limites, até para que eles sejam transpostos num movimento de transcedência ("A alma imoral").
    Seja brava com a Sofia quando for preciso... mas ao (ela) apreender o que vc quer dizer, manifeste seu amor de outra forma... não como recompensa, mas como um professor que tem o prazer de dar 10 na prova de uma aluno aplicado.
    Bem, esse foi um esforço de um padrinho meio ausente de corpo, mas presente em alma.

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  3. Amigo, calei. Chorei, arrepiei. Te amo, viu?

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  4. "Hay que endurecer-se. Pero sin perder la ternura jamás".

    E sigamos ensinando e aprendendo com eles.

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  5. Querida Itala, Lu Medeiros me passou o seu post e eu vibrei! Passei aqui e estou amando o seu blog. Também sou mãe de menina (2 anos), identificação total.
    Beijos e continue escrevendo assim!
    Bíbi

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  6. é normal a gente levar o heitor na marra pro banho, às vezes. vai chorando, mas não ligo. é o que falo com ele, muitas vezes: "pode chorar, heitor. isso vai ser feito de qq maneira e não vou ligar". logo passa e ele já tá rindo de novo. e ainda se desculpa depois. são mini-humanos mesmo, como nós.

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  7. Itala, essa da água fria me fez rir. Só rindo para enfrentarmos determinadas situações, né? Outro dia, a Carminha, minha sobrinha voluntariosa, não queria almoçar antes de ir pro colégio. Aí, dissemos que ela passaria fome lá. E a resposta: "No meu colégio tem comida". A mãe contou que um dia ficou com pena, mas a deixou passar fome, pra ver se ela aprendia. Pelo visto, ainda não...

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  8. madulita,
    quando você falou em limite pensei em saturno e fui dar uma olhada no mapa de vocês duas. você tem a lua em leão aos 15 graus e sofiofoca tem... chanchanchan.... saturno! aos 10 do mesmo leão. estou aqui tentando decifrar algo na minha parca astrologia. a lua representa o seu lado materno, emocional, a tua mãe internalizada e a própria mãe que você se torna. essa lua está em conjunção com o saturno de sofiofoca que é a marca do limite em cada um. engraçado, né?
    isso me faz pensar na linguagem com que essa lua pode se comunicar com esse saturno. em leão, uma possibilidade interessante é não ir pelo racional, pelas palavras de convencimento mas sim pelo que pode fazer com ela tenha prazer naquele momento e, se esse prazer, está ligado a uma demonstração da importância que ela tem pra você...pimba!

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  9. Muito grata, muito grata! Faz todo o sentido...

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  10. Ué? não sabia que a Cris tem tanto pé assim na astrologia... oba!!! rs.

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