sexta-feira, 24 de abril de 2009

Notícias que ninguém devia ler*


Hoje eu estou triste. E, no meu caso, mergulhar no trabalho não ajuda:
Bebê é arrastado pendurado ao carro em assalto em Alagoas
Professor mata o filho e se mata por não obter a guarda
Bebê é roubado em creche no Paraná para ser vendido
Tartaruga é encontrada morta em praia de Olinda
Brasileira é assassinada pelo namorado na Argentina
Policial mata mulher dentro de boate e se suicida em SP
Chuva deixa 3.531 desabrigados e desalojados em SC
Acusado do envolvimento de Dorothy Stang sai da prisão
* Chamadas do plantão de Nacional do G1. Um alento: os dois bebês estão bem.

Voltei. Postei, o peito ainda apertado, e aí veio a cena em que Björk, a Selma Jezková de "Dançando no escuro", presa numa cela, canta "My favorite things", de "A noviça rebelde":

Raindrops on roses and whiskers on kittens Bright copper kettles and warm woolen mittens Brown paper packages tied up with strings These are a few of my favorite things Cream colored ponies and crisp apple streudels Doorbells and sleigh bells and schnitzel with noodles Wild geese that fly with the moon on their wings These are a few of my favorite things Girls in white dresses with blue satin sashes Snowflakes that stay on my nose and eyelashes Silver white winters that melt into springsThese are a few of my favorite things When the dog bites When the bee stings When I'm feeling sad I simply remember my favorite things And then I don't feel so bad

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Charlie e Lola


Passamos o fim de semana na Serra, em Pedro do Rio - ou na "Serra do Rio", como resume Sofia -, com os amigos Pedro e João, seu filho. Na primeira vez lá Sofia tinha 2 meses e João, 3 anos. Hoje, é ela que tem 3 anos - e ele, 6. São Charlie e Lola. Ela, encantada, ficava atrás dele o tempo todo:
- Joãão! Joã-ão... Mãe, você viu o João?
E João, para sorte de Sofia, tem uma característica raríssima em crianças: é paciente. Superpaciente, aliás. Conduz como um gentleman as disputas de brinquedos e justifica cada atitude, ora protegendo seu território, ora cuidando dela, como uma irmãzinha caçula:
- Sofia, eu cuido dos meus brinquedos, mas quando eu tinha 3 anos, a sua idade, eu quebrava tudo, sabe? Então toma cuidado, tá?
- Ih, agora não pode pegar o barco porque ele faz parte da minha filmagem.
- Sofia, não pode ficar assim grudada na televisão; faz mal. E assim eu não vejo nada.
- Não corre, que você pode escorregar!
Jogaram muito futebol, montaram quebra-cabeças juntos - o dele era Mach 5 do Speed Racer, dificílimo; o dela, um médio, do Cocoricó -, viram desenho (ele já migrou para o Cartoon, mas, bom anfitrião, tolerou um pouquinho de Discovery Kids)...
E assim, com a admiração dela por ele e a gentileza dele com ela, foi um fim de semana perfeito. No fim, se despediram até com beijinho. Lindos.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Confissões

Qual o limite para a falta de limite?
Sofia anda testando o meu. Esta pessoa que mal chegou ao mundo já conhece os mais recônditos porões da minha alma. E, vira e mexe, se dispõe a abrir suas gavetas entulhadas e tortas.
Antes de ser mãe, eu era uma excelente mãe. Achava que jamais gritaria com filhos; bater, então! Eu ria de piada de mães judias e italianas, dramáticas e chantagistas. Balançava a cabeça para quem sai andando e deixa o filho se esgoelando, coitado, no meio do corredor do shopping. Afinal, quem se irrita a este ponto com um filho só pode ser desequilibrado. Ou cruel. Afinal, tratando as crianças com carinho, elas vão ser sempre carinhosas e boazinhas, certo? Nananinanão. E assim me vejo recorrendo a expedientes perversos para conseguir cumprir a mínima rotina doméstica. Um exemplo (considere longas pausas entre as falas):
- Daqui a pouco tá na hora do banho.
- Tá na hora do banho.
- Vamos pro banho?
- Tá, mais um minuto e vamos.
- Então agora vamos pro banho, vamos lá, ajuda a mamãe.
- Banho no três: 1, 2... 3.
- Já pro baaaanhoooo!
Ela, que antes só me ignorava, então dá a entender que estava ouvindo sim, só não estava interessada:
- Não vou. Não quero.
E a hora passando, a margem de segurança para imprevistos idem, e ela continua:
- Não vou! Não quero!
Quando tento conduzi-la civilizadamente, ela escapole aos safanões e pontapés.
É aí que os meus monstros saem da gaveta, ávidos por aquela jugular fofinha.
A mais frequente é o misto de mãe judia com italiana. Vigorosamente, a arrasto pro chuveiro e parto pra seção de culpas:
- Eu não gosto de fazer isso. Mas você está fazendo malcriação e me deixou muito brava. Pra que aborrecer a mamãe? Não é pior assim? Se você ajuda, fica tudo bem. Mas assim não dá certo. Mamãe está muito triste. E pior: atrasada. Agora, não vai mais dar tempo da gente brincar, porque você passou esse tempo todo fazendo malcriação em vez de obedecer.
A essa hora ela, arrependida, pede mil desculpas, chora, me abraça, pede pra me acalmar. Mas eu, coração de pedra, fico intransigente. E as lamúrias continuam:
- Tá, desculpo, mas ainda estou chateada. E você precisa entender que tem que obedecer. Quando a mamãe fala, tem que atender. Combinado? Combinado.
E aí começa tudo de novo, agora pra SAIR do banho. E, quando esgota-se a criatividade e a paciência não dá o ar da graça, apelo para a torneira fria.
Deve haver um jeito menos truculento de fazer um filho ser cooperativo. Alguém me ensina?

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Faltou

Lá pelas tantas do almoço de Páscoa, Sofia já brincando com os brindes de dois ovos de chocolate, faz cara de enfado e pergunta, desapontada:
- Mas mãe, e o coelhinho? Cadê o coelhinho?

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Se não os temos, como sabê-lo?

Estava agora lendo um post bem legal da Raquel Almeida no Mães em Rede, sobre as mil dúvidas que cercam as mulheres sobre ter ou não um segundo filho. Uma dessas questões é que, quando rola uma certa diferença de idade, não se tem dois irmãos, mas "dois filhos únicos".
Uma leitora, que tem não dois, mas 4 filhos, de todas as idades possíveis, acabou com a discussão:
"Sabe o que acho? Não importa a diferença entre eles. Todos os filhos são únicos."
Arrasou.
Agora só falta se resolver com os outros 999 itens.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Últimos dramas de Sofia

Filha de dramáticos dá nisso:

- Mãe, fala baixinho, que está me dando dor de cabeça...

- Pai, tô com tosse, tem que me levar no doutor...

- Mãe, olha pra mim que eu tô falando com você...

- Ai, tá coçando aqui, passa uma pomadinha?

- Ai, aquele carro buzinou! Feio!

- Ai, tem areia no meu sapato!

- Ai, um mosquito me mordeu!

terça-feira, 7 de abril de 2009

Moça brava

Numa certa fase da infância, fui chamada de "Mônica", porque tinha um jeito bruto e briguento de resolver conflitos, muitas vezes defendendo meu irmão dos meninos maiores da rua. Sempre tive bons amigos, mas nunca fui muito popular, daquelas com quem todos da turma gostam de estar.

Já nos anos 90, antes de me conhecer, Marcelo me deu outro apelido, só de me ver passar, passo duro e cara fechada, pela redação do JB: era "Moça Brava".

Hoje vejo Sofia, bicuda e bufando, tentando corrigir na marra os erros do mundo, na visão dela. Contrariada, ela se arvora a esbravejar e mesmo a distribuir safanões, inflada de razão.

Terapêutico, como diria a Thereza. Como não me sentir culpada pela herança? E não venham me dizer que "isso é dela, não tem nada a ver comigo". É até uma boa teoria, mas tamanha coincidência não é gratuita, ou é muita ironia.

Fico incomodadíssima:
- Filha, brigar é horrível, conversando é que a gente se entende - é meu mantra.

Penei pra deixar de ser a Moça Brava - ainda que de vez em quando ela escape pela gola da blusa e se revele nas veias saltadas da fronte.

Mas ela não prevalece mais. Prefiro mesmo minha versão light, que tento praticar, praticar, praticar...

Como pregar a doçura, senão a demonstrando?

Ainda bem que Sofia já gosta de ioga, já é um adianto.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

O post que pari

Levedura: S. f. 1. Lêvedo (1). 2. Fermento (1 e 2).

Fermento: S. m. 1. Substância capaz de provocar trocas químicas, particularmente fermentação, sem nada ceder de sua própria matéria aos produtos de fermentação. 2. Massa de farinha que azedou e que, misturada a outra massa de pão, determina, nesta, a fermentação. 3. Fig. Germe de paixões, revoluções, etc.

Esta é a proposta e a necessidade que originou este blog.

Ele precisa existir, mesmo que não haja leitores. Sua função é fazer a química, impedir que os ingredientes apodreçam antes de se transformar em outra coisa. Conter o azedume. Extravazar o sentimento. Poupar a análise. Salvar o casamento, a maternidade, a individualidade. O negócio é deixar fluir. Como diria o outro: "Tudo é fluxo, nada é fixo".

E se alguém ainda por cima quiser acompanhar, compartilhar esse bolo de ideias e demências e carinhos e carências vai ser uma delícia.